quarta-feira, 20 de abril de 2011

Depois da tempestade vem a...PROMESSA!!







Depois de 14 dias do acontecido em Realengo, não se ouve mais falar da tragédia que aconteceu por lá. Deve ter parado de dar ibope. Mas não estou aqui para falar mais uma vez da mídia televisiva, estou aqui para falar da mídia impressa. Hoje, 20/04, saiu uma reportagem aqui no Rio, esta que coloquei em anexo aqui ao lado. Nela a secretária de educação, Cláudia Costin, promete um inspetor por andar. A iniciativa é muito boa mas me questiono se 1844 inspetores serão suficientes para inspecionar as 1064 escolas em todos os seus andares. Das três escolas em que trabalhei, uma tinha 1 andar e as outras duas 4 andares cada uma. Lembro-me de pouquíssimos inspetores, todos quase sempre estressados.




Porém......




Fico feliz com esta promessa, mas fico triste que esta medida só tenha sido tomada depois do fato acontecido. Parece que as coisas aqui no Brasil só funcionam assim. O time só joga bola quando está perdendo, o povo só grita quando está passando mal no metrô, o poder público só se posiciona quando acontece alguma desgraça.


O post de hoje é curtinho mas muito importante. Eu tinha que deixar esta promessa digitalizada para que depois eu possa cobrar. Até mais!!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Plebiscito para desarmamento é brincadeira!!!


Desde a chacina que aconteceu no dia 07/04 na escola Tasso da Silveira venho vendo os noticiários e fico cada vez mais inconformado com a desqualificação da mídia na hora de apresentar uma notícia. Em todos os canais a procura dos repórteres é por depoimentos de crianças emocionadas, por marcas de sangue em mochilas até o relato de uma vizinha da escola que via tudo pela janela. Vou justificar a minha indignação com um exemplo. Antigamente quando um torcedor invadia o gramado era motivo de risadas e as câmeras se voltavam todas para ver o torcedor corredor. Se não me engano, na década de 80 um torcedor ganhou até um apelido especial, beijoqueiro, ele ganhou este apelido por beijar sempre alguém que estava em campo. Voltando ao assunto, as câmeras antigamente davam "ibope" para este tipo de gente. O que acontece nos dias de hoje em transmissão de jogo ao vivo quando um louco entra correndo pelo campo? Na mesma hora a câmera para de filmar o torcedor e filma qualquer outra coisa para que as pessoas não repitam o ato errado. O que a televisão tem mais feito ultimamente? Matado todo dia as mesmas 12 crianças. Dando um "IBOPE" diário para o assassino, querendo saber como ele era, porque fez tal ato, como era sua família, como se isso fosse justificar a atrocidade que fez. A essas alturas uma pessoa em depressão por não ser reconhecida no seio social, pode enxergar tudo isso como oportunidade para um reconhecimento que nunca lhe foi dado, psicólogos hão de concordar comigo.

Hoje ao ver um telejornal em uma emissora, comecei a ver o desfecho da história sendo feito... Salas de aula serão pintadas, reformadas... Uma nova escola?? O que mais me deixa angústiado é o que o poder público federal está pensando em fazer. Um novo plebiscito para o desarmamento, como se isso fosse evitar outra atrocidade. Pela lei atual nenhum menor de 25 anos pode ter uma arma. O assassino não tinha esta idade, portanto pela LEI ele não poderia ter o porte de arma. IRIA ADIANTAR ALGUMA COISA UM PLEBISCITO?? O problema não está em ter arma ou não, o problema está em fiscalizar as rodovias federais e estaduais para evitar o contrabando de armas.

Quero falar outra coisa bem grave. FALTAM MILHARES DE INSPETORES E FUNCIONÁRIOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS! Em nenhum momento eu ouço falar isso na televisão.

- Mas Daniel, o que isso tem haver com o que aconteceu?

Em tese todas as escolas devem ter uma pessoa responsável pela entrada e saída de funcionários e alunos na escola. Isso já inibiria qualquer pessoa a entrar na escola.

- Mas Daniel, as políticas educacionais vão contra isso... As portas têm que ficar abertas para a comunidade, para a família...

Ora, não precisam de portas fisicamente abertas o tempo todo para a família/ comunidade entrar na escola. Tenho certeza que sou muito bem acolhido na casa de meus pais e estejam certos, as portas não ficam o TEMPO INTEIRO abertas. Por fim eu gostaria de falar que eu NUNCA VI um guarda municipal na escola onde trabalho, NUNCA VI!

Quanto ao plebiscito. Será a maneira de esfriar a situação e a oportunidade para o poder público dar uma resposta para a sociedade.

- Olha, sociedade, em 2005 vocês votaram pela livre comercialização das armas. Daí o assassino que tinha uma arma porque VOCÊS deixaram, matou 12 crianças e deixou outras 12 feridas. Vamos fazer outro plebiscito, mas desta vez votem direitinho para não acontecer mais uma tragédia como essa.


Que Deus guarde a vida de todos que se foram nesta escola, conforte as famílias e ecoem o grito dos que ainda não sabem, mas perderão seus filhos para a violência.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Meus ídolos

As palavras que escrevo e escreverei não vão resumir o que é a vida de um Agente de Reforço Escolar. Estas palavras só mostrarão o desafio que significa ser educador neste país, independente do projeto educacional que você faça parte ou família que se preze.


Este texto é dedicado à todos os alunos que sobrevivem na escola do século XXI. Alunos estes que são ídolos para mim, em especial os alunos da Escola Madrid (Tijuca), Pedro Aleixo (Cidade de Deus) e Fernando Rodrigues da Silveira (Costa Barros).


Meus ídolos


É a terceira vez que tento começar este texto e não consigo. Preciso desabafar o que sinto, é angustiante... Espero que me entendam. Aliás, preciso que me entendam!!


- Professor, eu quase morri no carnaval. Colocaram uma arma na minha cabeça e só sei que depois de algum tempo eu estava vivo em outro lugar. Meu amigo não teve a mesma sorte e se foi.


- Como foi isso? Qual a explicação??


- Professor, meu amigo já tinha se envolvido com o tráfico. Ele era um cara legal mas se foi. Estávamos indo para uma festa de carnaval.


- Sinto muito pelo seu amigo... Volte com cuidado para casa. Se cuida.


Cara, é angustiante, não tem o que falar para um aluno desses. Como explicar em palavras o que sinto? Partilhei esta conversa com vocês leitores para expressar a dificuldade que é entrar em um lugar desesperados. O medo é meu aliado, a educação é a minha arma, mas a arma deles pode acabar com a minha, com as minhas, com os meus alunos! I-M-P-O-T-Ê-N-C-I-A. Este é o sentimento!

Hoje vi três alunos jogados ao chão. A barriga se mechia. Eles estavam vivos. Jogaram-se no chão para não serem acertados por balas que ali ao lado se perdiam ou se encontravam? Foi de polícia? Foi de bandido?

MAIS UM TIRO!!! AGORA MAIS PERTO!!! Quem estava abaixado agora era eu e ao meu lado o professor me confessou: "Já vi um aluno ao meu lado tomar um tiro no ombro". Não tem que ser assim! Não pode ser assim! Meus ídolos não podem ir ao chão com medo de não levantarem mais! Políticas públicas, vocês existem aqui?? Cheguem em Costa Barros!!! Meus heróis precisam de ajuda! Vou convivendo com o medo, encarando ele de frente. Meus alunos estão em primeiro lugar, vou lutar por eles, vou lutar com eles. Se eu ficar inerte a tudo que acontece ao meu redor, estarei automaticamente deixando meus ídolos enfraquecidos. Vou usar as armas que tenho: lápis, borracha, caneta, livro, caderno...

Sei que a luta é desigual, mas a minha arma muda o mundo e a dos outros faz com que vivam no mundinho deles. Se eu passar indiferente pela vida dos meus alunos, que tipo de educador eu serei?? Um aluno triste é um triste aluno!


"Sou uma pessoa que tem sonhos, assim como você também tem. Se você que estiver lendo esta carta puder me ajudar de alguma maneira, por favor o faça com urgência!" (Fragmento de uma carta de uma aluna do 7º ano em Costa Barros).