terça-feira, 12 de abril de 2011

Meus ídolos

As palavras que escrevo e escreverei não vão resumir o que é a vida de um Agente de Reforço Escolar. Estas palavras só mostrarão o desafio que significa ser educador neste país, independente do projeto educacional que você faça parte ou família que se preze.


Este texto é dedicado à todos os alunos que sobrevivem na escola do século XXI. Alunos estes que são ídolos para mim, em especial os alunos da Escola Madrid (Tijuca), Pedro Aleixo (Cidade de Deus) e Fernando Rodrigues da Silveira (Costa Barros).


Meus ídolos


É a terceira vez que tento começar este texto e não consigo. Preciso desabafar o que sinto, é angustiante... Espero que me entendam. Aliás, preciso que me entendam!!


- Professor, eu quase morri no carnaval. Colocaram uma arma na minha cabeça e só sei que depois de algum tempo eu estava vivo em outro lugar. Meu amigo não teve a mesma sorte e se foi.


- Como foi isso? Qual a explicação??


- Professor, meu amigo já tinha se envolvido com o tráfico. Ele era um cara legal mas se foi. Estávamos indo para uma festa de carnaval.


- Sinto muito pelo seu amigo... Volte com cuidado para casa. Se cuida.


Cara, é angustiante, não tem o que falar para um aluno desses. Como explicar em palavras o que sinto? Partilhei esta conversa com vocês leitores para expressar a dificuldade que é entrar em um lugar desesperados. O medo é meu aliado, a educação é a minha arma, mas a arma deles pode acabar com a minha, com as minhas, com os meus alunos! I-M-P-O-T-Ê-N-C-I-A. Este é o sentimento!

Hoje vi três alunos jogados ao chão. A barriga se mechia. Eles estavam vivos. Jogaram-se no chão para não serem acertados por balas que ali ao lado se perdiam ou se encontravam? Foi de polícia? Foi de bandido?

MAIS UM TIRO!!! AGORA MAIS PERTO!!! Quem estava abaixado agora era eu e ao meu lado o professor me confessou: "Já vi um aluno ao meu lado tomar um tiro no ombro". Não tem que ser assim! Não pode ser assim! Meus ídolos não podem ir ao chão com medo de não levantarem mais! Políticas públicas, vocês existem aqui?? Cheguem em Costa Barros!!! Meus heróis precisam de ajuda! Vou convivendo com o medo, encarando ele de frente. Meus alunos estão em primeiro lugar, vou lutar por eles, vou lutar com eles. Se eu ficar inerte a tudo que acontece ao meu redor, estarei automaticamente deixando meus ídolos enfraquecidos. Vou usar as armas que tenho: lápis, borracha, caneta, livro, caderno...

Sei que a luta é desigual, mas a minha arma muda o mundo e a dos outros faz com que vivam no mundinho deles. Se eu passar indiferente pela vida dos meus alunos, que tipo de educador eu serei?? Um aluno triste é um triste aluno!


"Sou uma pessoa que tem sonhos, assim como você também tem. Se você que estiver lendo esta carta puder me ajudar de alguma maneira, por favor o faça com urgência!" (Fragmento de uma carta de uma aluna do 7º ano em Costa Barros).

Um comentário:

Reginaldo de Oliveira disse...

Veja a publicação DIGNIDADE AO PROFESSOR do Jornal do Commercio AM em http://regecontabilidade.blogspot.com